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Filpo e a Feira usa tamanco como instrumento e aposta em referência 'raiz'   Foto: Júlia Gomes/Terra

No 'Aquecimento Terraiá', Filpo e a Feira dá aula de forró raiz e explica origem de instrumentos 'diferentões' 663e6w

Grupo exaltou a origem nordestina do gênero musical no terceiro episódio do programa de São João do Terra 6x1a1q

Imagem: Júlia Gomes/Terra
  • Redação Terra Redação Terra
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6 jun 2025 - 04h59
(atualizado às 14h47)

Para saber se uma música é de qualidade, basta observar a resposta do corpo quando ela toca. No forró, a reação é clara: se desperta a vontade de dançar coladinho e faz o corpo vibrar de alegria, pode apostar que é coisa boa. 286h20

Esses sentimentos afloram como resultado da sonoridade única do gênero, pensada por seus músicos em cada detalhe. Quase como alquimistas, o grupo Filpo e a Feira domina bem a arte de combinar instrumentos não tão convencionais para agitar a galera.

No terceiro episódio do Aquecimento Terraiá, a banda explicou como funcionam os objetos 'diferentões' que carregam no palco. Na mão deles, uma a vira viola e até um tamanco sai do pé para se tornar percussão. 

No bate-papo com Cazé Pecini, Filpo e a Feira também falou da importância do forró para a preservação da cultura brasileira e fez uma ponte curiosa entre a música nordestina e a oriental. A entrevista foi ao ar na quinta-feira, 5. 

Forró raiz 333o5h

Depois de estourar pelo Brasil como representante do forró, Luiz Gonzaga resolveu voltar à sua cidade. O pernambucano chegou a Exu, no interior do Estado, com a saudade da família e uma sanfona chique até demais na mala.

Mas, na hora de tocar, o instrumento caro e robusto virou piada na boca dos amigos de seu pai e a bronca se tornou uma das suas músicas mais famosas. "Luiz, respeita Januário!/ Tu pode ser famoso/ mas teu pai é mais tinhoso e com ele ninguém vai", destaca o verso tão conhecido do forró.

O que os amigos da família do rei do baião queriam dizer é que não adianta investir em instrumentos ultratecnológicos e robustos quando, na verdade, a qualidade está na raiz

Filpo e a Feira usa tamanco como instrumento e aposta em referência 'raiz'
Filpo e a Feira usa tamanco como instrumento e aposta em referência 'raiz'
Foto: Júlia Gomes/Terra

É por isso que Filpo e a Feira se debruçou no estudo dos instrumentos de forró para criar sua própria sonoridade. Há uma década, o vocalista do grupo, Filpo Ribeiro, é pesquisador de rabeca e viola de 10 cordas. Os objetos, claro, foram integrados à banda. 

"No Brasil, temos alguns tipos de violas. Tem a viola caipira, mais tradicional aqui do Sudeste e Centro-Oeste, e as violas nordestinas, que a gente tem como referência nos repentes. Também usam-se outras (...) Acabei adotando esse tipo para esse trabalho porque [a viola de 10] tem essa tonalidade um pouco mais espetada, mais metálica. Acho que cai bem aqui", explica. 

Outro instrumento raiz trazido pelo grupo é o tamanco de madeira, usado para compor a percussão.

Pisada de tamanco também vira música  1b1u5c

Se repararmos bem nos movimentos do dia a dia, cada calçado tem uma sonoridade única. Há quem tenha memória afetiva com o 'tec tec' do salto alto usado pela mãe. Outros lembram do característico estalar do chinelo de dedo durante a correria das brincadeiras de criança. 

Esses barulhos, tão integrados à rotina, também podem ser usados como elementos musicais. É o caso do tamanco de madeira, um dos instrumentos 'diferentões' trazidos pelo grupo para o palco. 

Filpo e a Feira usa tamanco como instrumento e aposta em referência 'raiz'
Filpo e a Feira usa tamanco como instrumento e aposta em referência 'raiz'
Foto: Júlia Gomes/Terra

De acordo com o percussionista Alisson Lima, o artifício faz referência ao tamanco de coco de trupé, um instrumento musical de percussão usado na dança de coco. A festa é uma manifestação cultural originada no Maranhão, mas abraçada por grande parte do Nordeste.

"Dentro da tradição, os trupés vêm para completar essa questão rítmica. Por exemplo, se a zabumba faz essa 'célula' mais do baião, a gente compõe junto com o tamanco. E originalmente é assim mesmo, uma sandália! É um chinelo que pode ser usado na mão ou no pé", detalha. 

'Esses caras são psicodélicos' 4v18n

O tamanco é mesmo inusitado, mas não ocupa o posto de instrumento mais diferente do grupo. O cargo fica para o marimbau, definido pelo vocalista como uma "a amplificada" --no sentido literal mesmo. 

É que o instrumento foi criado pelo próprio Filpo Ribeiro a partir de objetos de seu cotidiano. Uma assadeira aqui, uma tigela acolá e até um pedaço de cadeira da casa da mãe serviram para compor seu marimbau único. 

"Construí juntando essas duas peças de alumínio com um pedaço de madeira que eu achei na rua. Juntei com uma tarraxa velha de cavaquinho e um pedaço de cadeira da casa da minha mãe. Era uma cadeira quebrada; estava encostada. Mas é por um bom motivo também; minha mãe sempre me incentivou com essas maluquices", brincou. 

Filpo e a Feira usa tamanco como instrumento e aposta em referência 'raiz'
Filpo e a Feira usa tamanco como instrumento e aposta em referência 'raiz'
Foto: Júlia Gomes/Terra

Parece inovador, mas o instrumento já existe faz muito tempo. O líder da banda faz questão de destacar que o marimbau não foi uma invenção sua, mas de músicos de forró do Nordeste, aos quais ele chama de "psicodélicos".

"Não é uma criação minha. Ele era muito usado pelos tocadores de feira livre e de praça pública do Nordeste. Esses caras são psicodélicos", conta. 

"É um instrumento que se cria e se toca muito de acordo com a criatividade individual de cada tocador", acrescenta.

Parecido com o "berimbau", o nome marimbau veio através de uma importante manifestação da cultura brasileira. Foi o Quinteto Armorial que batizou a peça, um grupo pernambucano ligado ao Movimento Armorial, idealizado por Ariano Suassuna nos anos 1970. A partir de um manifesto, o autor do Auto da Compadecida queria valorizar a arte nordestina. 

Luthier do forró 4h1d28

Mesmo com a referência raiz, a "graça" do marimbau está mesmo na experimentação. "É um instrumento que se cria, se toca e compõe muito de acordo com a criatividade individual de cada tocador. É uma coisa muito maluca", destaca Filpo.

Quem trabalha construindo instrumentos de corda é chamado de luthier. No entanto, o vocalista do grupo se considera mais um "construtor popular" do que um artesão profissional. 

"Não aprendi na escola e em nenhum curso. Foi mais na observação, mesmo. É assim que os construtores populares aprendem. É muita observação ao longo dos anos, desde que eu era moleque. Hoje em dia, com o às redes sociais, a gente troca muita ideia com construtores do Brasil inteiro", explica. 

Para saber se o instrumento está 'no ponto' certo, basta observar se o coração vibra junto. "Aprendi nessa nessa escola da observação e da tentativa e erro. Estou tentando e errando até hoje", ite. 

Filpo e a Feira usa tamanco como instrumento e aposta em referência 'raiz'
Filpo e a Feira usa tamanco como instrumento e aposta em referência 'raiz'
Foto: Júlia Gomes/Terra

'É um papel importante de memória' 2k5r20

Ao dançar forró, o ouvinte exalta tradições que ele mesmo pode não conhecer tão bem. Isso porque, para além da música, o gênero faz parte da manifestação da cultura popular e tem um importante papel de preservação da memória. É assim que Filpo Ribeiro vê o cancioneiro nordestino.

"O forró tem um papel importante de memória. Não é só música, são todas as tradições que estão ligadas a ele", defende. 

No entanto, isso não quer dizer que o forró é antigo ou desatualizado. Pelo contrário. O gênero é uma manifestação cultural viva, que se atualiza a todo momento. 

"As tradições também mudam, os temas das letras também são atualizados e isso não é uma coisa só das bandas novas. Vemos em toda a cultura popular. Lá no Nordeste, em Pernambuco, entre os próprios tocadores tradicionais, os mestres e mestras falam sobre assuntos atuais. A cultura popular também muda", diz. 

Quando Luiz Gonzaga surgiu, nos anos 1940, não existiam plataformas de streaming, redes sociais ou sequer internet. O rei do baião fez sucesso cantando sua realidade naquele período, o que talvez não ecoe tanto nas comunidades tradicionais no século XXI. 

Filpo e a Feira usa tamanco como instrumento e aposta em referência 'raiz'
Filpo e a Feira usa tamanco como instrumento e aposta em referência 'raiz'
Foto: Júlia Gomes/Terra

No entanto, é a essência que faz sua discrografia ser um clássico inquestionável, quase como um diagnóstico de um povo naquela época. A movimentação certa do forró é essa: se atualizar, mas sem perder a raiz. 

"O forró ajuda a manter viva essa tradição, o modo de vida dessas comunidades tradicionais, a questão social. As tecnologias vão alterando esses modos de vida, de antigamente. Com forró de Gonzaga, tinha muita a questão da subsistência, das roças, das secas, a forma comunitária como se lidava. Isso foi mudando ao longo do tempo e o forró vai atualizando também", defende. 

Sonoridades parecidas ao redor do mundo  3j246a

Apesar de nascer como uma manifestação cultural regional, o forró também é global. Os toques e os intrumentos usados para compor o gênero também têm "irmãos gêmeos" ao redor do mundo. 

"A música brasileira e, principalmente, a nordestina tem essa relação com a música oriental e de outros lugares também. A rabeca mesmo vem ali do Oriente Médio, ando pelo Norte da África", explica Filpo. 

O marimbau também é popular em outros cantos do globo, sem perder a essência experimental. "Ele aparece em vários lugares do mundo e a sensação que tenho é que ele surge de forma espontânea", aponta.

Filpo e a Feira usa tamanco como instrumento e aposta em referência 'raiz'
Filpo e a Feira usa tamanco como instrumento e aposta em referência 'raiz'
Foto: Júlia Gomes/Terra

No Aquecimento Terraiá, o apresentador Cazé Pecini conversa com convidados que fazem parte dessa festa em quatro episódios semanais. Nas edições adas, o programa trouxe o icônico grupo Falamansa e o coletivo feminino Forró das Minas.

Os episódios vão ao ar às quintas-feiras, às 20h, no Terra e no canal do portal no YouTube.

*Terraiá 2025: a cobertura do Terra para as festas de São João tem o patrocínio de Amazon.com.br.

Fonte: Redação Terra
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