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Negacionistas do clima exploram dados fora de contexto para questionar aquecimento global 1v5t

POSTAGEM REPERCUTE PARTE DE NÚMEROS DE ESTUDO QUE MOSTRA CRESCIMENTO DE GELO NA ANTÁRTICA ENTRE 2021 E 2023, MAS DESPREZA PERDA TOTAL DE 111 BILHÕES DE TONELADAS POR ANO EM MAIS DE DUAS DÉCADAS; FALÁCIA É CONHECIDA COMO 'CHERRY-PICKING' 3h3e6b

4 jun 2025 - 15h17
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Uma estratégia comum dos negacionistas das mudanças do clima é pinçar dados isolados de crescimento da massa de gelo da Antártica para negar o aquecimento global por ação humana — que é um consenso científico. Apesar de haver variações de gelo em períodos mais curtos específicos, com dados positivos, a tendência ao longo do tempo mostra um degelo contínuo. 3b685q

A tática é conhecida como "cherry-picking" (coleta de cerejas, em português), e consiste em selecionar apenas uma parte de um conjunto maior de dados para apoiar uma tese, desprezando as informações que possam contrariá-la.

Nesta semana, postagens no Brasil e no exterior utilizaram a estratégia ao repercutir um estudo publicado em março por pesquisadores da Universidade de Tongji, em Shanghai, na China. O artigo analisou mudanças da camada de gelo da Antártica entre 2002 e 2023.

O deputado estadual por Santa Catarina Alex Brasil (PL-SC) destacou em uma postagem apenas um dos achados da pesquisa: um crescimento da massa de gelo entre 2021 e 2023. Diante disso, o político escreveu que a "Antártica está ganhando gelo pela primeira vez em décadas", sugerindo, de forma enganosa, que o aquecimento global seria uma "arma ideológica", e não um fato científico, como afirma a Nasa.

O deputado foi procurado pelo Verifica, mas não respondeu.

Estudo mostra perda de gelo entre 2002 e 2023

Ao focar em um período específico para apoiar sua tese, o deputado despreza o conjunto maior de dados que consta no próprio estudo. De uma forma geral, a pesquisa apontou que, mesmo com aumento de gelo entre 2021 e 2023, o derretimento total entre 2002 e 2023 foi de aproximadamente 111,13 bilhões de toneladas por ano.

O glaciologista e membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC) Jefferson Cardia Simões explica que existem variações no nível de gelo da Antártica de ano para ano, ora com diminuição, ora com aumento, mas esses dados não podem ser analisados isoladamente.

"O que vale é a tendência de longo período. Ou seja, a perda de massa ao longo de um período maior de anos", disse Simões. "O que estudo está dizendo é que o total da massa de gelo entre 2002 e 2023, mesmo considerando o aumento, ainda é muito negativo".

À AFP Fact Check, Yunzhong Shen, um dos autores do estudo, disse que o aumento observado entre 2021 e 2023 ocorreu em uma escala de tempo muito curta para ser tratado como uma reversão da tendência de perda de gelo, ou para negar os impactos das mudanças climáticas na região.

A tendência ao longo do tempo aparece em um gráfico da Nasa (abaixo), a partir de dados dos satélites Grace e Grace Follow On, os mesmos utilizados pelos pesquisadores chineses no estudo. No site da agência americana, é possível conferir a curva descendente, embora haja momentos de elevação.

Yunzhong Shen disse à AFP que o ganho de massa de gelo apontado no estudo parece ter parado em 2024, mas que seriam necessários mais estudos para precisar o movimento.

Ao expandirmos o gráfico da Nasa entre 2020 e 2025 (abaixo), nota-se que o nível de gelo é praticamente o mesmo - o que indica uma reversão do ganho observado entre 2021 e 2023.

Degelo contribui para aumento do nível do mar

Segundo a Nasa, as massas de gelo da Antártica e da Groelândia, que registram um degelo mais acelerado, estão decaindo devido ao aquecimento contínuo da superfície do planeta e dos oceanos, o que resulta em aumento do nível do mar.

"A água de degelo proveniente dessas calotas é responsável por cerca de um terço do aumento médio global no nível do mar desde 1993?, diz a agência.

Segundo os pesquisadores chineses, o aumento de gelo entre 2021 e 2023 na Antártica está relacionado a uma precipitação anormal. Eles não chegam a abordar as razões, mas Simões explica que isso se deve a questões climáticas, com uma provável relação com o aquecimento do oceano.

"Não temos todas as respostas, mas provavelmente é devido ao aquecimento do próprio oceano, que evapora mais água e mais neve cai sobre Antártica", diz o glaciologista.

Outros casos de 'cherry-picking'

No ano ado, outras duas postagens que viralizaram nas redes sociais utilizaram a mesma estratégia de "cherry-picking" para desacreditar o aquecimento global. O Estadão Verifica e o Projeto Comprova, do qual o Estadão faz parte, desmentiram as alegações (aqui e aqui).

Em um dos casos, uma postagem explorou o dado isolado de extensão de gelo no oceano Glacial Ártico que, em março de 2024, atingiu o maior nível desde 2013. Porém, foi desprezada a série histórica, que mostra um declínio contínuo da cobertura de gelo na região em 46 anos de medições.

Em outra ocasião, um estudo que mostrou que, entre 2009 a 2019, houve aumento de área das plataformas de gelo que costeiam a Antártica foi repercutido na internet de forma enviesada. A mentira era de que o achado provava que o aquecimento global não era real.

Mas o estudo não afirmava isso e, mais uma vez, foram desprezados os dados que apontam o contrário e configuram consenso científico em torno das mudanças climáticas. Além dos evidenciados nesta reportagem, o observatório europeu Copernicus mostrou que o ano de 2024 foi o mais quente da história, superando o recorde registrado em 2023.

Por sua vez, a emissão de dióxido de carbono (CO2) por ação humana vem atingindo níveis máximos. Considerado o principal gás para o aumento do chamado efeito estufa, o CO2 retém parte do calor da Terra, aumentando a temperatura.

Estadão
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